Por Raphael Scirè
Quando a Andréia me convidou para
escrever esse texto, aceitei na hora, mesmo na dúvida sobre o que eu
escreveria. Falar da minha relação com ela, a primeira pessoa que de fato
acreditou e apostou no meu potencial profissional, seria algo muito pessoal.
Decidi, então, procurar um tema diferente. Abri a tela do computador e agora
estou aqui, suando frio diante da tela em branco, mas já com o tópico na mente:
ansiedade.
Eu fui, sou e serei muito
ansioso. Quando pequeno, não conseguia dormir sempre que tinha um compromisso
agendado para o dia seguinte. Revirava na cama e o sono não vinha. Lembro que
uma vez eu estava tão eufórico por conta de uma apresentação que eu teria numa
daquelas feiras escolares que na hora de enfrentar o público me sentia
extremamente cansado. Se havia uma excursão com a escola, minha mãe tinha que
me dar algum calmante natural. É a tal da euforia, a vontade de ver concretizar
aquilo que você quer muito. E, infelizmente, esse sentimento cresceu comigo, só
que ele parece um pouco nocivo. A cada ano, me vejo mais e mais ansioso.
Uma vez, a própria Andréia, na
ocasião da entrega de um trabalho que ela havia solicitado, me disse que me
enxergava assim. Até então, eu tinha consciência dessa minha “característica”,
mas não havia percebido que ela já era tão exacerbada a ponto de estar clara
também para aqueles que conviviam comigo. E sentir-se ansioso é uma das piores
sensações que alguém pode experimentar. Porque não é aquele frio na barriga
gostoso que sentimos quando estamos apaixonados. Junto à ansiedade, vem um
tremor de medo, de insegurança, um vazio quase existencial. Isso sem falar
quando problemas físicos não começam a aparecer...
Ok, esse texto parece um
pouco pessimista, mas quem já sofreu uma crise do tipo sabe do que eu estou
falando.
Criar expectativas é alimentar
frustrações. Mas é natural do ser humano ambicionar algo, seja um amor, um
emprego, um futuro melhor ou até um doce, que seja. E a não concretização
dessas ambições é dilacerante.
Dizem que as coisas certas acontecem no tempo
certo. É preciso relaxar, deixar o tempo correr seu fluxo normal. Eu senti isso
quando lancei meu livro. Já estava desanimado e ia lançá-lo apenas online,
depois de um longo período procurando por editoras e recebendo uma série de
“nãos”. Mas, quando eu menos esperava, apareceu a oportunidade de publicá-lo.
Aconteceu. Tinha que ser assim. E foi.
Outro fator que contribui – e
muito – para a ansiedade, penso, são as modernidades tecnológicas. Essas
plataformas de interação, como o chat do facebook e o whatsapp, que denunciam
quando nossas mensagens já foram visualizadas, contribuem sobremaneira para
aumentar o desespero de quem não consegue esperar mais do que dois minutos para
receber uma resposta. Eu, por exemplo, desativei a função “visto por último” do
meu aplicativo. Mas tem horas que me pego tentado a voltar lá e reconfigurar o
que eu fiz. Elimina o mal? Na certa que não, mas atenua um pouco.
Stalkear, o ato de fuçar nos
perfis das pessoas, é outra coisa capaz de fazer pirar o mais controlado dos
monges budistas. Claro, quando isso é feito de maneira desmedida, quando deixa
de ser curiosidade e passa a ser controle. Li uma frase dia desses, acho que no
próprio facebook, que brincava com o ditado popular “o que os olhos não vêem, o
coração não sente”. Dizia assim: “O que os olhos não vêem, a paranoia inventa”.
Eu tenho amigos que perdem totalmente o controle (e a noção) em relação à
prática de stalkeamento. Por puro ciúmes. E ciúmes, nada mais é do que
insegurança. Eu também perco, reconheço.
Além de ansioso, sou ciumento. E aí
temos um ciclo vicioso do qual é difícil de escapar. Insegurança > ciúmes
> stalking > ansiedade > insegurança.
A internet sem dúvidas traz
muitas vantagens para nós. Facilita nosso trabalho, nossa comunicação. Mas tem
uma face perversa. Deve ser por isso que nunca o serviço de terapeutas foi tão
procurado. E com isso, há uma profusão de venda de calmantes, antidepressivos,
fitoterápicos. Mas não há ansiolítico melhor do que o autocontrole. Forçar-se a
não fazer aquilo que te faz mal talvez seja a saída para resolver o x dessa
questão. Mas vai dizer isso pra um ansioso!? Eu, por exemplo, já vou agendar
minha próxima consulta com a minha analista.
Raphael é jornalista e escritor, autor da biografia do novelista Silvio de Abreu.
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