terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ansioso, eu? Mas é claro!

Por Raphael Scirè

Quando a Andréia me convidou para escrever esse texto, aceitei na hora, mesmo na dúvida sobre o que eu escreveria. Falar da minha relação com ela, a primeira pessoa que de fato acreditou e apostou no meu potencial profissional, seria algo muito pessoal. Decidi, então, procurar um tema diferente. Abri a tela do computador e agora estou aqui, suando frio diante da tela em branco, mas já com o tópico na mente: ansiedade.

Eu fui, sou e serei muito ansioso. Quando pequeno, não conseguia dormir sempre que tinha um compromisso agendado para o dia seguinte. Revirava na cama e o sono não vinha. Lembro que uma vez eu estava tão eufórico por conta de uma apresentação que eu teria numa daquelas feiras escolares que na hora de enfrentar o público me sentia extremamente cansado. Se havia uma excursão com a escola, minha mãe tinha que me dar algum calmante natural. É a tal da euforia, a vontade de ver concretizar aquilo que você quer muito. E, infelizmente, esse sentimento cresceu comigo, só que ele parece um pouco nocivo. A cada ano, me vejo mais e mais ansioso.

Uma vez, a própria Andréia, na ocasião da entrega de um trabalho que ela havia solicitado, me disse que me enxergava assim. Até então, eu tinha consciência dessa minha “característica”, mas não havia percebido que ela já era tão exacerbada a ponto de estar clara também para aqueles que conviviam comigo. E sentir-se ansioso é uma das piores sensações que alguém pode experimentar. Porque não é aquele frio na barriga gostoso que sentimos quando estamos apaixonados. Junto à ansiedade, vem um tremor de medo, de insegurança, um vazio quase existencial. Isso sem falar quando problemas físicos não começam a aparecer... 
Ok, esse texto parece um pouco pessimista, mas quem já sofreu uma crise do tipo sabe do que eu estou falando.

Criar expectativas é alimentar frustrações. Mas é natural do ser humano ambicionar algo, seja um amor, um emprego, um futuro melhor ou até um doce, que seja. E a não concretização dessas ambições é dilacerante. 

Dizem que as coisas certas acontecem no tempo certo. É preciso relaxar, deixar o tempo correr seu fluxo normal. Eu senti isso quando lancei meu livro. Já estava desanimado e ia lançá-lo apenas online, depois de um longo período procurando por editoras e recebendo uma série de “nãos”. Mas, quando eu menos esperava, apareceu a oportunidade de publicá-lo. Aconteceu. Tinha que ser assim. E foi.

Outro fator que contribui – e muito – para a ansiedade, penso, são as modernidades tecnológicas. Essas plataformas de interação, como o chat do facebook e o whatsapp, que denunciam quando nossas mensagens já foram visualizadas, contribuem sobremaneira para aumentar o desespero de quem não consegue esperar mais do que dois minutos para receber uma resposta. Eu, por exemplo, desativei a função “visto por último” do meu aplicativo. Mas tem horas que me pego tentado a voltar lá e reconfigurar o que eu fiz. Elimina o mal? Na certa que não, mas atenua um pouco.

Stalkear, o ato de fuçar nos perfis das pessoas, é outra coisa capaz de fazer pirar o mais controlado dos monges budistas. Claro, quando isso é feito de maneira desmedida, quando deixa de ser curiosidade e passa a ser controle. Li uma frase dia desses, acho que no próprio facebook, que brincava com o ditado popular “o que os olhos não vêem, o coração não sente”. Dizia assim: “O que os olhos não vêem, a paranoia inventa”. Eu tenho amigos que perdem totalmente o controle (e a noção) em relação à prática de stalkeamento. Por puro ciúmes. E ciúmes, nada mais é do que insegurança. Eu também perco, reconheço. 

Além de ansioso, sou ciumento. E aí temos um ciclo vicioso do qual é difícil de escapar. Insegurança > ciúmes > stalking > ansiedade > insegurança.


A internet sem dúvidas traz muitas vantagens para nós. Facilita nosso trabalho, nossa comunicação. Mas tem uma face perversa. Deve ser por isso que nunca o serviço de terapeutas foi tão procurado. E com isso, há uma profusão de venda de calmantes, antidepressivos, fitoterápicos. Mas não há ansiolítico melhor do que o autocontrole. Forçar-se a não fazer aquilo que te faz mal talvez seja a saída para resolver o x dessa questão. Mas vai dizer isso pra um ansioso!? Eu, por exemplo, já vou agendar minha próxima consulta com a minha analista. 

Raphael é jornalista e escritor, autor da biografia do novelista Silvio de Abreu.

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