domingo, 17 de abril de 2011

Eu, a Cabana e Deus

Normalmente leio livros num ritmo diferente, deixo que as histórias ditem seu ritmo e leio no tempo em que elas entrarem em mim. Grifo, reflito, converso sobre os livros.
Ganhei “A Cabana”* no meu aniversário.  Casualmente vi que era um dos livros mais lidos da lista de Veja e do New York Times.
Terminei de ler e me encantei , tanto pela reflexão que ele traz como pela coincidência, ele surge em minha vida com suas ideias revolucionárias e libertadoras sobre a relação de Deus com o homem ao mesmo tempo em que eu decido me conectar com Deus.
Como dizem os espíritas, existem duas formas de você entrar em contato com Deus: pela Dor e pelo Amor. Advinhe...fui levada pela ‘dor’. E mais percebo que a dor tem uma função.
Já ouvi de muitos evangélicos uma frase “Senti Jesus em meu coração”, que sempre achei que fosse um texto pronto. Pouco a pouco, do meu jeito, começo a entender o que isso significa.
Para ler “A Cabana” você não precisa estar num ‘momento espiritual’. Mark, o personagem principal, não está. Ele perde a filha criança, revolta-se, e depois recebe um bilhete de Deus para um encontro.
Esse encontro poderia ser de qualquer um de nós, pois trata de sutilezas de nossa relação com a vida e com o céu. Num mundo tão objetivo, materialista, Darwiniano, soa ingênuo falar sobre essa particularidade que é nossa percepção da fé, de Deus e de Jesus.
Seguir seus ‘ensinamentos’ significa ralar muuuiiitto! Amar ao próximo, por exemplo, é fácil de dizer, difícil de aplicar. Principalmente quando o ‘próximo em questão’ ou não é tão próximo, ou te magoa, ou não te ‘interessa’.
Acho que é preciso um certo distanciamento para tratar desse assunto. Porque ser bom parece tão básico que a gente prefere não se incluir na reflexão. Especialmente se a nossa conclusão nos leva a achar que qualquer coisa diferente disse soa medíocre. Quer ver um exemplo,  o que significa amar? Não querer nada em troca é uma resposta. Não é bem assim na vida real, onde criamos expectativas, desde uma simples amizade até de nosso chefe.  Querer receber já cria expectativa. Veja essa fala entre “Deus” e “Mark” no livro A Cabana sobre o assunto: 
- Deus diz: “quando nos vemos ou quando estamos separados, há prontidão em estarmos juntos, de rirmos, de falarmos. Essa prontidão não tem definição concreta: é viva, é dinâmica, e tudo que emerge do fato de estarmos juntos é um dom único que não é compartilhado por mais ninguém. Mas o que acontece se eu mudar “prontidão” por “expectativa”, verbalizada ou não? Subitamente a lei entra no nosso relacionamento. Agora você espera que eu aja de um modo que atenda suas expectativas. Nossa amizade viva se deteriora rapidamente e se torna uma coisa morta, com regras e exigências. Não tem mais a ver com nós dois, mas com o que os amigos devem fazer ou com as responsabilidades de um bom amigo.
- Ou – Mark observa – com as responsabilidades de pai, de marido, de empregado ou qualquer outra coisa. Entendi. Prefiro viver na prontidão.”
Viver na prontidão é ‘servir’. É deixar que sirvam. Aproveitar cada segundo seu de prontidão. E daí, se você tira a expectativa, receber será um presente. Imagine que o autor está certo e que ‘Deus’ vive na prontidão. Isso faz muito sentido, porque está disposto, por exemplo, a perdoar sempre e nos dar uma nova chance de recomeçar, livres de culpa. Segundo o livro, quem inventou a culpa fomos nós, os homens, que também inventamos as regras.
A culpa e o julgamento são irmãos siameses. Quando a gente se livra dos dois, troca culpa por responsabilidade e liberta-se de julgar os outros (o que cá entre nós é nosso dia a dia, e essa atitude condena mais a gente mesmo que o outro), a gente também se liberta de achar que está sendo julgado o tempo todo (o que cá entre nós é um porre).
Muitas das regras e verdades absolutas que usamos para julgar o mundo e os outros são interpretações nossas daquilo que achamos certo, juntando todo o emaranhado de informações que nos passaram: religiosas, da cultura, das leis que regem nosso país, do comportamento social de nossos pares, de valores de família. Veja esse trecho do livro sobre ‘a verdade’: “A maioria das emoções são reações àquilo que você percebe: o que acha verdadeiro numa determinada situação. Se sua percepção for falsa, sua reação emocional a ela também será falsa. Então verifique suas percepções e além disso verifique a verdade de seus paradigmas, dos seus padrões, daquilo que você acredita. Só porque você acredita firmemente numa coisa não significa que ela seja verdadeira.”
Sem pensar, julgamos os outros e os fatos, determinamos as regras, sem considerar essa hipótese, de estarmos errados.
O foco da vida moderna tem sido a conquista, o sucesso. Isso, com requintes de crueldade da propaganda, que nos estimula mais a ter que mesmo a ser. Ou da estética, que nos orienta sobre o que devemos ser  ‘por fora’, para sermos assim mais aceitos. E achamos que somos isso, seres profissionais, seres comerciais, seres artificiais. Entendemos que isso é ser livre, independente, moderno.
Não, somos indivíduos! Indivíduos não se enquadram em verdades universais. Segundo o dicionário indivíduo é: pessoa considerada isoladamente, em relação a uma coletividade: o indivíduo e a sociedade. Adj. Que não admite divisão sem perder seu caráter peculiar; indiviso.
 Quer dizer que somos únicos, que os padrões não nos cabem, que não somos os carros que temos ou as carreiras que escolhemos. Somos, cada um, um complexo de estruturas extraordinárias que nos compõem: corpo, mente e espírito. Não temos todos de ser magros ou loiros, não temos de modificar o corpo (exceto em casos de saúde), não temos de selecionar as pessoas por sua graduação ou sentirmo-nos mais ou menos pelo extrato bancário.
Amo meu trabalho, ele me ajuda a evoluir como pessoa e intelectualmente, e sinceramente acho que esse tem de ser o papel no trabalho em nossa vida, além de proporcionar reconhecimento, autoestima e estabilidade financeira. E ao dar o melhor de nós no trabalho em todos os sentidos, estamos certamente dando algo à sociedade, que é de alguma maneira impactada por ele. Mas tente olhar ao seu redor (como eu disse, essa reflexão é mais simples quando olhamos o macro, não apenas para dentro de nós). As pessoas se afastam de si mesmas. Nem se dão conta.  Dedicam-se exaustivamente a qualquer coisa que as afaste delas mesmas, e usam o trabalho para isso. Como usam igualmente o dinheiro.
E questionam, certas de suas atitudes, “Se Deus existe porque existe isso, ou aquilo? Por que eu? Por que a guerra? A fome? ”. Veja esse trecho do livro em que Mark fala com Deus:
“Mark: mas eu me esforcei tremendamente para trancar você do lado de fora da minha vida.
Deus: As pessoas são persistentes quando se trata de garantir sua independência imaginária. Elas acumulam e guardam a doença como se fosse um bem precioso. Encontram sua identidade e seu valor na mutilação e os guardam com cada grama de força que possuem. Não é de se espantar que a graça seja tão pouco atraente. Nesse sentido você tentou trancar a porta do seu coração por dentro,
Mark: mas não consegui.
Deus: porque meu amor é bem maior que sua estupidez...
Mark: então você usa a dor para forçar as pessoas a voltar?
Deus se inclinou gentilmente: querido, eu também o perdoei por pensar que eu poderia ser assim...porque você está tão perdido em suas percepções de realidade e ao mesmo tempo tão seguro de seus julgamentos. O amor verdadeiro nunca força.”
Um soco no estômago não? É papo pra mais de metro.
Sei que me estendi para um blog, mas convido você a ler “A Cabana”, aberto, sem julgar-se a si mesmo, disposto a refletir e se conectar com o seu Deus particular. Certamente sua percepção será bem diferente da minha.
Próximo à Páscoa, festa cristã que celebra a ressurreição de Jesus Cristo, cabe retomar essa reflexão: do que se trata nossa relação com esse homem? E no que isso tem íntima conexão com nossa relação com nós mesmos? Esse ser individual que falamos acima, que só nós conhecemos em sua fragilidade e beleza?
Não somos um extrato do certo e errado da sociedade. Somos um ser maravilhoso fruto da Criação ou da Evolução da Terra, ou dos dois. Olhe para uma árvore florida...não é maravilhoso? Olhe para o espelho...extraordinário! Seus olhos, cabelos, sorriso...flores.
Renascer é a mensagem da páscoa. É Jesus vivo em nossos corações dizendo: renasça todos os dias, alegre, florido. Ou simplesmente uma força que leva cada um a ser o melhor que pode ser.
Para todos, Boa Páscoa, para qualquer religião ou para qualquer um que consiga entender essa sublime mensagem. Sou espírita, como 1,3% dos brasileiros. No Brasil há espaço para todas as religiões, isso é um bênção. Assim como há espaço para aqueles que não optaram por uma religião, mas que têm sua própria luz, como o sol. Fiquem com Deus, renasçam todos os dias, com flores e sorrisos.
Além do tradicional ovo de páscoa, darei às pessoas minha prontidão. E para mim devolvo minha fé e me dou a paz de viver sem expectativas e tentando estar livre dos julgamentos. Vou tentar.
Mack disse: “por que eu? Porque você ama alguém tão ferrado?...depois de tudo que senti sobre você, de todas as acusações que fiz...”
Deus diz: “porque é isso que o amor faz. Lembre-se, não fico pensando nas escolhas que você faz. Eu já sei. Sei que você vai ter de passar por 47 situações antes de me ouvir com clareza suficiente para concordar comigo e mudar. Então, quando da primeira vez você não me ouve, não fico frustrada, fico empolgada. Penso: faltam só 46!”
PS: Mark, do livro, é uma história real.

Um comentário:

  1. eu não terminei de ler o livro, mas é uma história de perda né, pode ser a perda de um emprego, de um namorado, um marido ou um filho.

    a parte que mais me pegou até agora foi a explicação de como a pérola vem da dor, do sofrimento.

    bj e ótima páscoa!

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