terça-feira, 12 de julho de 2011

Masculino Feminino

Sentado em frente a minha mesa de trabalho está Rafael, um rapaz de 31 anos, judeu, de olhos e cabelos claros que me manda uma mensagem de texto que dizia o seguinte:
Rafael - olha um tema bom pro seu blog: Mulher é mais feliz quando reconhece diferenças de gênero, diz cientista
Ele se referia a uma entrevista que leu na Folha on Line, com a psicóloga Susan Pinker. Susan abandonou o feminismo e passou a ver as diferenças biológicas que existem entre os sexos de outra maneira, por exemplo, entende que errou ao afirmar que todas as distinções de gênero eram socialmente construídas. 


Ao sair da sala Rafael, em defesa do texto, disse: “eu mesmo tenho lido muito a respeito, vejo a mulher se masculinizando demais...” Não obstante, corrigiu com leve desconforto: não estou sendo machista, estou?


Penso que em partes ele tem razão. Se a mulher por vezes se masculiniza faz isso para dar-se credibilidade, desde a própria vestimenta até às palavras. Eu mesma, fui às compras no sábado e trouxe 4 camisas!

Por esses dias senti uma tristeza profunda, saudade de praticar um hobby, saudade de estudar....me deu uns 5 minutos e me matriculei num curso e, não vai demorar, vou voltar a dançar. 

Vontade de ser mãe então...nem se fale! É o feminino se manifestando.

O feminino gosta do prazer, de cuidar, de dedicar-se, de aprender.
Pensei no tamanho empenho que dedico a meu trabalho, que às vezes amo e às vezes... não.
A independência financeira mudou a cabeça da mulher...hoje não mais dependente para nada, não atura também mais nada! Mas se nasce uma nova mulher, livre, nasce junto um novo homem e uma nova sociedade. Mulheres que não “aturam” são mais completas e felizes. E os homens só ganham com isso.
...a festinha acabou, Susan permita-me discordar, muda para mulher, muda para o homem também, que tem de ser mais amigo, mais companheiro, mais participativo. Já pensou nisso Rafael?

Mas sobre me masculinizar acho que funciona assim: se as mulheres se comportam frágeis demais é porque são deveras incapazes de lidar com os conflitos, ou são indefesas demais para liderar. Se são fortes, é porque são arrogantes. Se não são nem uma coisa nem outra, estão escondendo alguma coisa ou mesmo não têm personalidade. É um inferno! Ainda há uma série de definições (ou indefinições) sobre o papel da mulher no mercado de trabalho, que, por vezes, acabam por estipular padrões e rótulos.

Já sobre o dinheiro, Susan acha que os homens ganham mais que as mulheres não por preconceito, mas porque eles priorizam isso.
Ora, se o trabalho é igual, a carga horária e a qualificação, também, desculpe, mas essa não cola! Permita-me discordar, dinheiro é bom sim e também é prioridade. Para homens e mulheres a realização do trabalho está intimamente ligada a seu reconhecimento financeiro.

Mas numa coisa tenho que concordar, o trabalho parece não ser tão prioritário para mulher como é para o homem. Tenho amigas incríveis, inteligentes, que são felizes dedicando suas vidas a seus filhos, casa e maridos. Mulheres que estudaram e ainda estudam e que nem por isso têm menos importância em suas famílias. Cozinham extraordinariamente e, ainda, são excelentes mães, cultas, doces. Já outras amigas administram bem a vida corrida da cidade grande, academia, salão, trabalho, filhos e marido...e assim, cada ser humano vai se encontrando nessa trajetória única, como defende a própria Susan no livro “O Paradoxo Sexual”.

Trabalho numa sala com 5 rapazes, além do Rafael. Muito provavelmente meu salário é um dos mais competitivos. Não sofro preconceito, nem sou desrespeitada por aqui, pelo contrário. Mas se você perguntar qual a minha prioridade, talvez eu te responda que minha prioridade é viver. Se isso tem ou não a ver com o trabalho, eu ainda não descobri. Agora muita gente, eu inclusive, estou encontrando novos paradoxos para exercer na plenitude um “eu” único, simples, completo. O feminino masculino é discutido há anos, nos anos 80 Pepeu Gomes cantou o tema...pra matar a saudade segue o clipe do Rock´in Rio!!

P.S.: Há 20 anos atrás, um rapaz na idade do Rafael, não se importaria com textos como esse.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário