domingo, 3 de abril de 2011

A DESCOBERTA DO AMOR

ABRE ASPAS
“...Uma conversa sua me preocupou. Não é hora de pensar em namoro ou coisa parecida. No momento certo te avisarei. Ass. O PAI”
Relendo meu diário, escrito quando eu tinha 10 anos de idade, encontrei essa mensagem do meu pai. Antes, havia pedido para que ele me ‘autorizasse’ a namorar. Não que eu estivesse apaixonada. Não. Tinha ‘resolvido’ que queria ser atriz e que, por isso, tinha de aprender a beijar. Ele, obviamente, me proibiu, de todas as formas que você possa imaginar: ameaçou me bater, fechou a cara, brigou com a minha mãe, pediu para que eu decidisse se “queria apanhar agora ou depois do banho”. Dei um tempo para ele pensar, dizendo que preferia apanhar “depois do banho”. Desci com o diário e ele documentou a proibição! Indignado.
Advinha: fiz um acordo com um garoto de 14 anos, ele me ensinava a beijar e eu...beijava! Claro, escondido. Para meus pais eu havia entendido: só quando “ele” autorizar! Esse dia nunca chegou, obviamente. Depois disso namorei pela primeira vez com um garoto popular do colégio. Eu tinha 11 anos, minha cunhada me levava escondido para beijá-lo no portão da casa dele. Emocionante! O melhor: ele tinha 16 anos! Não era o máximo? No começo era só um namorico (porque como toda pré-adolescente eu gostava de outro garoto, que não me dava bola). Até o dia em que o namoradinho em questão me deu...UM FORA! Aquele fora... O primeiro fora...pronto, eu o amava. Amor pra sempre, de querer morrer, se matar...Sheakespere! Tudo isso, gostando de outro.
Esse “outro” foi o amor da minha vida até os 15 anos, quando tive a chance de esnobá-lo depois de: tomar um fora!  Mas nesse ínterim, dos 11 aos 15, namorei mais umas 2 vezes...e queria amar.
Aos 16 amei, como nunca amei ninguém! E ele gostava de outra, até que o conquistei e namoramos. Durante um tempo o amei...depois...passou.
E assim fui amando, vivendo e mudando. Sofrendo e sorrindo. Nessa fase da vida melhor que o namoro era “a conquista”. Auto-afirmação mesmo, delicioso, doce.
Entendi que “descobrir” o amor foi pra mim um processo de autoconhecimento e maturidade. Os ‘foras’ que levei foram, na verdade, motivadores da conquista. Os amores que tive, aprendizados de relacionamento.  Amores, no plural, quem disse que só tem um?
Como eu chorei! Me desesperei. Me senti um lixo! E toda vez que me sentia o máximo...ele parecia cair no meu conceito! Amor bom era amor difícil.
Amei no trabalho, na escola, amei na internet. Aliás, a internet foi quase um capítulo à parte, a possibilidade de escolher, entre tantas opções, alguém que tivesse AFINIDADE comigo, era perfeito!  Então eu praticamente ‘criava’ a pessoa, com a minha régua. E se não tivesse bom, era só pesquisar mais que aparecia coisa melhor! Uma espécie de “Google Love” ou mesmo “Peixe Apaixonado Urbano”. Isso era magnífico e...irreal, pra não dizer: surreal. Essa expectativa por um “par perfeito”, tal qual o nome do site, matava qualquer possibilidade de um relacionamento. Lógico que ninguém é o que você espera que seja.
Aí, tantos anos depois, o inesperado: diferente e igual a mim, inesperado, improvável...cansei da expectativa e entendi o amor. O amor que experimento hoje tem sido um conjunto complexo de coisas: admiração, amizade, paixão, respeito, companheirismo e muita, muita afinidade. Tem uma época na vida que parecemos valorizar mais uma coisa do que outra. Mas quando a coisa desanda em alguma seara, fazemos “o balancete” pesando tudo o que vale a pena no amor.
O melhor do amor pra mim tem sido a diferença. Aprender a lidar com ela, gostar dela e crescer com ela é em si amar.
Ao contrário de tudo o que tentei controlar na vida, até esse hábito de viver no extremo (sofrendo ou sorrindo), hoje vejo o amor como um mar calmo. Exceção aos momentos de aventura entre nós dois, próprios de um relacionamento longo e feliz, não experimento nem ‘o pico da dor’ nem o que idealizei um dia ser ‘o pico da felicidade’. A dor e a alegria são o meu dia a dia e pra mim esse amor se basta. Sem altos “altos” ou baixos “baixos”. Sereno. Brisa. Com dias de chuva...e um sol de outono.
A descoberta do amor tem sido todo dia, assim: sem receita. Mas sem ter pedido para namorar aos 10 anos, talvez eu não tivesse descoberto ainda que, para amar alguém é preciso admirar-se a si mesmo a ponto de seu amor próprio ser mais precioso que qualquer amor que você possa sentir. Distribuir amor significa conhecer o básico: amar-se a si mesmo.  Assim, minha expectativa não é de receber, mas de dar amor. Aí tudo o que vier é mais que lucro!
Meu pai soube que eu tinha um namorado quando eu tinha 15 anos.
Meu pai soube que eu amava alguém quando eu tinha 25.
Cada amor foi verdadeiramente vivido como se fosse o último!
Nunca apanhei após o banho, nem antes.

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