domingo, 15 de maio de 2011

As Rainhas do Futebol

Assistindo a Santos e Corinthians, além do desempenho dos meninos da Vila e da tradicional garra corintiana, uma coisa me chamou a atenção: a bandeirinha Tatiane. Sem pestanejar, sem errar, com invejável condicionamento físico e bastante frieza emocional para agüentar a tensão do jogo, dos jogadores e das torcidas, ela foi imprescindível num lance importante do jogo*.

Apenas em 2003 a FIFA autorizou que mulheres apitassem jogos das eliminatórias da Copa do Mundo de 2006. Hoje no Brasil há cursos de árbitras, na Federação Paulista de Futebol a diretora dos cursos é a ex-árbitra Silvia Regina de Oliveira, a primeira mulher a apitar jogos no Brasil.

É como se essa “invasão” estivesse pronta ou quase preparada para ser aceita. Trata-se de uma inversão de valores, de tumultuar a ordem, é divino. Imagine o lance decisivo de um clássico do futebol nas mãos de uma menina de 1.60m e trancinha no cabelo...imagine nossos pais contando isso! Agora é diferente. Ou volte no tempo, imagine seu melhor amigo há 20 anos atrás apresentando sua namorada em uma festa e ela dizendo “Sou Maria Clara, volante do XV de Piracicaba”.  Uma jogadora de futebol levava consigo toda sorte de preconceitos e ainda leva – melhorou, não resolveu.

De todo modo árbitras de destaque, jogadoras brilhantes, mulheres no estádio no início da década de 90 isso não existia a ponto de ser notado. Trabalhei com esporte, em especial com futebol nesse período. Fazia parte da produção da rádio Bandeirantes de São Paulo, ia aos treinos levantar dados dos jogadores. Volta e meia os repórteres gozavam da minha cara, pelo fato de ser mulher. Não fui a pioneira, antes de mim Claudinha já era a produtora e “chefa” de todos nós. Mas, éramos apenas nós duas que, como todos, não tinham sábados ou domingos, quintas à noite ou quartas (dias importantes de jogos).

Eram poucas as mulheres que se interessavam por futebol naquela época. Ao contrário, brigavam com seus maridos por passarem todos os dias nobres curtindo pernas peludas ao invés de ficar juntinho e namorandinho...

Reparem na TV hoje. Meninas lindas de unhas pintadas, camisas customizadas de seus times embelezando os estádios (para curtir um esporte “bretão” não precisa se masculinizar, correto?). Homens levam seus filhos e esposas, namoradas. Vemos fotos românticas de casais nas redes sociais, tiradas em estádios.

Isso também tem algumas explicações, maior campanha para famílias freqüentarem os estádios, um pequeno esforço pela tão sonhada paz no futebol e respeito entre torcidas, promoções que baixam os preços dos ingressos e a questão do ficar juntinho e namorandinho vendo pernas peludas e ainda sentindo o coração pular aos tubos não ser assim tão ruim, na opinião das mulheres, que, ao contrário, apaixonaram-se pelos times e são consumidoras importantes dos produtos do futebol. Esse um filão ainda pouco explorado.

Ontem mesmo precisamos ir ao shopping comprar um presente. Passeava um casal, ela com uma jaqueta lindíssima com o símbolo de um clube e ele com a camisa do mesmo time.

E o que dizer do futebol feminino? Uma seleção brilhante e uma mulher extraordinária, Marta, 5 vezes a melhor jogadora do mundo eleita pela FIFA, com um currículo que inclui desde carreira no exterior até usar a 10 do Santos de Pelé. Segundo a história, o primeiro jogo oficial de futebol feminino foi um clássico: 1898 - Inglaterra e Escócia. Já no Brasil há várias teorias, uma delas do acadêmico Clério Borges diz que o primeiro jogo oficial aconteceu em 1921, em São Paulo, entre o time das senhoras catarinenses e tremembeenses, torneios proibidos em 1964 pelo Conselho Nacional de Desportos.

Marlene Matheus foi um nome no futebol para ser lembrado por todos, não só pelos corintianos. Hoje dirige o Flamengo Patrícia Amorim! Claro, sem contar as psicólogas do esporte, comentaristas e apresentadoras especializadas. Somos poucas, mas estamos só chegando.

Nesse domingo não vi meu time, o São Paulo, ser campeão paulista. Não foi dessa vez. Mas ouvi pela internet na rádio Gaúcha o time do meu marido sagrar-se pela quadragésima vez o melhor do Rio Grande do Sul.
Mas ambos vimos a final do paulistão reparando essa mudança de paradigmas, nada mais é só do homem ou só da mulher. Nem o futebol, que a propósito, meu marido gosta menos que eu.

Se você gosta de futebol, seguem os melhores momentos: Santos 2 e Corinthians 1 - Santos Bi Paulista 2011.http://www.youtube.com/watch?v=1eN6fw655dM

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