“Cresci com o eco da voz da minha mãe dizendo: filha, prepare-se, estude muito! Eu já cansada, tentava fugir das demasiadas lições de casa e ela, semi-analfabeta, repetia: filha, estude muito e aprenda uma coisa: você é negra, pobre e mulher! Sem estudo vai acabar dentro de casa, cuidando de filho, assim como eu. Não é esse futuro que eu quero pra você!”. Quem me contou essa história foi *Paula, uma jovem de origem humilde, que hoje ostenta um curso superior e uma carreira promissora. Ao ouvi-la me identifiquei na hora: descendência nordestina, mulher, filha de pais com baixíssima escolaridade, origem simples, e, ainda, com problemas de saúde. Minha mãe, sem saber bem ao certo porquê, me encheu de livros. Só tinha uma certeza: menina, vai estudar! Pois bem, Paula e eu, fazemos parte das estatísticas de mulheres que:
1) Ocupam 55,1% das matrículas no ensino superior;
2) Fomam 52% do eleitorado brasileiro;
3) Que tem média de anos de estudo maior que dos homens em todas as faixas etárias, com exceção dos mais velhos (60 anos ou mais).
Eu, Paula e milhões de brasileiras também engordamos outra estatística: teremos de enfrentar um mundo que valoriza mais o trabalho do homem, que o da mulher. Da renda média que as mulheres recebem, no trabalho assalariado, corresponde a 70% da renda dos homens. E mais, nós, mesmo com mais preparo acadêmico atualmente, ainda ocupamos poucos cargos de diretoria. Recente pesquisa realizada nas maiores empresas do Brasil verificou que entre 1.162 diretores há somente 119 mulheres e, Paula, sua mãe e a minha tinham razão, apenas 6 negras.
Outros índices avassaladores, como a violência contra mulher – física e moral, deveriam ser lembrados aqui com destaque de estandarte.
Nesse 8 de março, minha mensagem é a seguinte: o Dia Internacional da Mulher foi criado porque mais de uma centena de operárias de uma fábrica de tecido de Nova Iorque se mobilizaram na primeira greve conduzida apenas por mulheres. Elas reivindicavam melhores condições de trabalho já que na época, essas condições sub humanas incluíam agressões físicas, sexuais e uma jornada muito extensa. No final dessa história as operárias foram trancadas na fábrica, que foi incendiada, causando a morte de todas elas, carbonizadas.
Certamente essas e outras mulheres já fizeram muito por nós. Mas há muito pelo que lutar, ainda. A gente não pode mudar o começo, mas pode transformar o fim da história.
Para quem não sabe “pra que” se comemora ‘8 de março’, como tantas vezes ouvi – inclusive de mulheres, espero ter elucidado suas dúvidas.
Hoje temos uma mulher presidente do Brasil. A terceira mais votada nessa mesma eleição, também era uma mulher. É um bom sinal dos tempos, apesar do Congresso Nacional ter pouca representatividade feminina.
E muito longe de querer “competir” com os homens, nossos companheiros na vida e no trabalho, o que elas e eles querem é um mundo mais justo para todos nós. O que é bom para homens e mulheres é bom para sociedade.
Porque ainda há milhões de mulheres no mundo inteiro subjugadas de seus direitos mais básicos.
O meu sincero abraço a todas as mulheres, que como eu e Paula diariamente e silenciosamente mudam a história. As mães, que escolheram estar com seus filhos. As mães que com o coração nas mãos deixam seus filhos para ir trabalhar. Àquelas que optaram não ter filhos e quem decidiu amar os filhos de outro alguém. O meu sincero abraço às mulheres de ouro que dedicaram suas vidas a seus lares. As que escolheram suas carreiras, as começaram novas carreiras, as empreendedoras.
E para todas que não tiveram escolha, dedico minha esperança. Meus parabéns para todas que tiveram a coragem de assumir sua preferência sexual, separar-se, recomeçar. Meu carinho para quem consegue sobreviver ao parto, à TPM, ao turbilhão de sentimentos e às nossas próprias cobranças.
Parabéns, queridas, pelo Dia Internacional da Mulher.
E parabéns aos homens lúcidos e sensíveis, que conseguem enxergar o poder da mulher para uma sociedade.
*O nome verdadeiro de Paula foi preservado.
Fontes: Planeta Sustentável, IBGE, ONU, UOL, R7, Brasil.gov.br, Instituto Ethos, MEC, TSE
Andréia:
ResponderExcluirGostei de seu artigo porque acredito que homens e mulheres deveriam ter as mesmas oportunidades, no entanto, a conquista do mercado de trabalho pela mulher ainda é muito recente. A sociedade machista tem bastante ainda a amadurecer para chegar ao ponto ideal. É preciso que pessoas como você continuem a proclamar por todos os meios possíveis e imagináveis que a mulher tem direito ao seu espaço, AO LADO do homem. Continue nessa empreitada, pois você escreve bem e sabe se comunicar como ninguém. Um abraço amigo.
cilmarmachado@yahoo.com.br Lins,SP.